É a partir da mata do Engenho Novo em Igarassu/PE, entre galhos, raízes e troncos caídos, que José Abias da Silva alimenta a sua capacidade criadora, transformando e dando novos significados ao que para muitos seria apenas resíduo. Essa relação sustentável com o ambiente remonta à infância quando aproveitava côcos secos e gravetos para dar forma aos próprios brinquedos.
Mestre Abias nasceu em 1967, no distrito de Nova Cruz, em Igarassu. Apesar da habilidade manual revelada precocemente, a sobrevivência o forçou a seguir por outros caminhos na vida. Já foi pedreiro, operário em fábrica de polpas de frutas, vigia e garçom. O encontro com a arte começaria a ser delineado por volta dos 28 anos de idade e de maneira inusitada. Enquanto capinavam um terreno, o colega Juarez o desafiou, em tom de brincadeira, a fazer “arte” com um galho de araçá. Seis dias depois, Abias apresentaria a sua primeira escultura – a figura longilínea de uma passista de frevo fincada em uma base de madeira.
No início dos anos 2000, enquanto trabalhava como garçom, aproveitou o espaço onde o artesão e amigo Roberto Vital expunha suas peças para apresentar alguns trabalhos. Dessa forma vendeu sua primeira escultura (um arranjo feito de galhos) e adquiriu confiança necessária para deixar para trás o emprego e seguir de vez com sua produção artística.
Troncos e galhos de sapotizeiros, aroeiras, jaqueiras, biribas, ingazeiras, transmutam-se e ganham significado singular nas mãos de Abias, cujo trabalho autoral despertou a atenção de colecionadores, arquitetos e designers. Recorre a ferramentas simples, como facas e foices, na elaboração de suas esculturas, que tem como identidade o respeito aos movimentos e formas dadas à madeira pela natureza. Um universo povoado por bailarinas, músicos, personagens da cultura pernambucana – como o caboclo de lança-, beija-flores, tatus, iguanas, entre tantos outros animais da fauna brasileira, e registros que marcaram o cotidiano de sua infância e adolescência. Mestre Abias também desenvolve uma linha artesanal utilitária, entre bancos, cadeiras e mesas, de design contemporâneo, já destacado pela Casa Cor Pernambuco.
Hoje me sinto realizado e tenho a preocupação em repassar o que aprendi na vida. Ajudar, claro, porque o professor não faz o artesão; ele apenas o auxilia em sua própria descoberta”, ensina o mestre.
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